sábado, 5 de novembro de 2011

The song remains the same. Or not.

Há poucos dias conversávamos eu e você a respeito de livros, quando o nome de Nick Hornby surgiu e, obviamente, "Alta Fidelidade" acabou materializando-se na conversa. Inevitável.

"Adoro esse filme", "é um dos meus preferidos", "li o livro umas três mil vezes"... O de sempre.

E depois que essa conversa se transformou em anteontem me veio à memória um detalhe do filme que sei lá se um dia você chegou a fazer: a história da fita K7.

Bem... Isso entrega a nossa idade, certo? Para os garotinhos e garotinhas juvenis que conheço: o personagem principal do livro/filme tinha o costume de preparar fitas K7 para as futuras razões de seu afeto, e ele comentava exatamente sobre a importância que AQUELA FITA poderia ter sobre o futuro de um relacionamento que ainda abria os olhos. De como era essencial saber qual música colocar no início - que jamais poderia ser a mais importante -, saber escolher a sequência correta, colocar a música que ela mais gostaria num ponto que não a fizesse desistir do restante. Decidir qual música encerrar o Lado A para que o Lado B fosse aguardado com curiosidade (se você não sabe o que é Lado A e Lado B... Sinto muito, seu juvenil). Depois de uma longa e tortuosa seleção, gravar música por música, entregar para a jovem em questão no próximo encontro, e torcer para que a impressão fosse a melhor possível.

Enfim... Qualquer pessoa entre os 30 e - vá lá - os 50 e que fosse realmente apaixonada por música pop (qualquer música boa o suficiente para não ser esquecida) e com uma vontade imensa de querer impressionar alguém já fez isso em algum momento da vida pré MP3.

Eu fiz isso.

A preocupação em escolher uma música interessante o suficiente para iniciar a fitinha; escolher a sequência que melhor casasse com o "espírito" da coletânea. Você não imagina como era difícil.

Ter que escolher entre os poucos vinis à mão e fitas K7 em geral, por incrível que pareça, não era fácil. Mesmo que nosso universo antes da Internet fosse restrito, parecia ainda um mundo imenso de escolhas a serem feitas. Sem contar o trabalho de ficar mais de uma hora em frente ao som, gravando pacientemente a distinta.

E torcer para dar certo.

Era um esquema que dava certo, às vezes não, e o resultado poderia ser diferente com a mesma pessoa. A fita de hoje entusiasmou? A do mês seguinte... Nem tanto.

E também se gravava, eventualmente, algumas coletâneas para os amigos mais próximos, mas essas jamais tinham o mesmo esmero que você devotava àquela fita em particular. Afinal, muito do seu futuro estava depositado ali. O próximo encontro, o beijo esperado, essas coisas de quem tem coração e outras coisas pulsando.

Mas os tempos mudaram. O vinil virou coisa de colecionador, fitas K7 só se encontram nas mãos de gente como a filha da Irene e seus associados. Em tempos de Internet, com sites disponibilizando discografias inteiras em MP3... Quem ainda se preocupa com isso?

Mesmo agora, quando gravo a minha "coletânea" para você, ela não tem 14 músicas escolhidas a dedo para caberem em 60 minutos. São 58 discos inteiros em um DVD.

Mas confesso: mesmo assim foi difícil. Se não pensamos mais em músicas particulares de determinados artistas, temos que escolher algumas dezenas de álbuns entre milhares armazenados no PC. Nem dá para pensar em caçar naquela centena de CDs armazenados.

Confesso: EU ainda me preocupo. Mesmo que parte das músicas que eu mais amo estejam diluídas entre centenas de tantas outras, ela dizem muito sobre a minha pessoa. E elas foram escolhidas a dedo para você.

E se forem do teu agrado, e me ajudarem a começar a te conquistar... Poderei dizer que ganhei o dia.

2 comentários:

  1. Nossa, Júlio, vc escreve muito bem. Adorei.

    Aliás, essas fitas K7 tb povoaram muito minha adolescência. Ganhei algumas, fiz algumas tb. Sempre com o mesmo cuidado, o mesmo esmero. E as fitas de 90min? Eram mais caras, mas dependendo do destino, valia a pena! Rsrsrs!
    E hj, na era do mp3, já ganhei cds e fiz muitos tb.
    Boas recordações.

    Bjaum!

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  2. Eu fiz isso!

    E ainda havia outra dificuldade, quando gravávamos musica por música, separadamente: não permitir o som do corte, quando apertávamos o botão do pause, no gravador. Conseguir este feito era algo para poucos. Comigo, sempre dava errado. A cada música que acabada, clic!.

    Argh!

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