segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Disciplina é liberdade

Rugby sempre foi um esporte que considerei interessante, mas, até aí, nada demais - sou fanático por futebol americano desde a época das caravelas. Mas comecei a acompanhar e realmente entender as regras do jogo com a Copa do Mundo que se realiza na Terra Média (Nova Zelândia).

Noves fora as danças tribais dos jogadores da Terra Média (Nova Zelândia), Fiji, Samoa e Tonga, é interessante acompanhar a dinâmica do jogos, como cada jogador tem sua função definida, as táticas, os embates nas trincheiras e a disposição sem fim. sujeitos que se arrebentam contra os outros, que racham a cabeça e voltam ao campo com pontos no nariz e onde mais precisar.

E uma imensa torcida que acompanha isso. É o terceiro torneio esportivo de maior audiência no mundo, só perde para a Copa do Mundo de futebol e as Olimpíadas.

Tantos jogos depois - agora já entraram nas semifinais - uma das coisas que mais impressiona é a disciplina. e não falo da disciplina tática, mas da disciplina de quem sabe que se trata de um esporte, onde se luta, batalha, mas precisa haver o respeito. Trocas de "gentilezas" são normais, mas não rola pancadaria gratuita.

E o principal: NINGUÉM PEITA, DESRESPEITA O JUIZ.

No rugby você não se dirige ao árbitro com dedo em riste, peitando, gritando, montinhos de cinco ou seis reclamando do penal marcado. é o juiz que fala contigo, que te chama a atenção, que respeitosamente procura o capitão e diz a ele o que está errado e quais podem ser as consequências. E o capitão repassa as determinações aos demais jogadores.

A coisa é tão séria que o próprio árbitro, muitas vezes determina a posição do jogador, mas que ele saia do ruck (que não vou explicar aqui), tudo na mais absoluta firmeza e educação.

Dito isso, fica a pergunta: porque o nosso futebol é tão diferente assim, visto que os dois esportes são praticamente irmãos? Diz-se que a diferença está no fato de que os jogadores de rugby foram profissionalizados pra valer apenas em 1995, enquanto os árbitros já eram profissionais desde sei lá quando. E todo mundo sabe que, na bola redonda, o profissionalismo dos jogadores existe há quase cem anos, enquanto nossos homens de preto...

Mas só isso não é suficiente. A verdade é que a cultura do futebol se transformou numa cultura de vale (quase) tudo, jogadores aprendendo com árbitros frouxos a se impor em campo, só faltando tomar o apito e cartões de suas mãos.

Aliás, isso já aconteceu...

Futebol é isso: uma profusão de Neymares e Valdívias se atirando em campo por qualquer motivo, técnicos promovendo o revezamento de faltas, jogadores que quase quebram as pernas alheias e cuspindo na cara dos juízes o absurdo da marcação da falta ("futebol é para macho!").

Enfim, uma pequena metáfora de nossos dias.

Onde os seres humanos perdem o respeito alheio, que te tratam como o inimigo, espalhando grosseria e intimidações a três por quatro. Onde o conceito de autoridade - não como o que manda, mas o que orienta - é ridicularizado.

Dizer que se trabalha no que gosta, mas fugir das obrigações com a maior demonstração de ma vontade possível.

Fular filas de bancos, de ônibus, de supermercado, achar que tem que ser atendido primeiro proque "o meu problema é mais importante".

Vencer o "campeonato dos espertos".

Tentando levar em vantagem em tudo.

Com o ilícito sendo a regra, e não a exceção.

Afinal, o importante é conquistar os três pontos.

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