E já se passaram 30 anos.
Tenho o péssimo costume de não lembrar o que se passou na minha vida desde que tenho capacidade para tanto - e isso inclui até mesmo a semana passada. Mas consigo lembrar que, há 30 anos, um dos meus tios (Zé Lúcio!) estava na casa em que morava com meus pais, lá no primeiro Jardim Amália, quando disse a ele que queria ser piloto de Fórmula 1.
Coisa normal: qualquer moleque com oito anos deseja ser essas coisas totalmente extravagantes. E era o ano em que o Piquet acabaria conquistando (ou já havia conquistado, minha memória etc.) o primeiro de seus três títulos. Piloto de verdade, não aquele garoto de comercial de margarina que a Globo vendia como a redenção do país...
Ops, sem digressões. No final das contas, ele disse: "Como você quer ser piloto se tem medo de lagartixa? É só jogar uma no cockpit que você sai correndo..."
Lagartixas à parte, tenho a certeza que, passadas essas três décadas, definitivamente não sou ou estou ou faço o que esperava naquela época - mesmo que não lembre o que esperava da vida em 1981. Eu disse, minha memória...
Certo, parece que estou andando em círculos por nada. O que desejo deixar claro é o seguinte: o mundo é muito maior, assustador e, mesmo assim, otimista quando temos oito anos. Achamos muitas coisas legais, desprezamos outras, pensamos na escola como um martírio, sonhamos coisas que, ao final, nem lembramos mais que foram sonhos. Pelo menos no meu caso.
Os rumos que a vida toma são tortuosos demais para termos certeza do amanhã, mesmo hoje. Que o diga antes dos dez. Só tive certeza do que queria da vida dez anos depois daquela noite em que conversei com meu tio, e mesmo assim passaram-se alguns anos antes de dar os primeiros passos para a minha realização profissional - e que ainda está no meio do caminho, mesmo que já esteja feliz com o que conquistei e faço.
Mas a existência não se resume a "ser piloto de Fórmula 1". Sonhamos com uma série de outras coisas: casas, amores, carros, viagens... E mesmo nisso posso dizer que minhas previsões foram redondamente equivocadas.
O que não quer dizer que o que vivi foi ruim, apenas diferente. Dos amores que vivi, das casas em que morei, e de uma série de pequenas coisas que fiz ou conquistei, muitas valeram a pena.
Temos o costume de pensar que o universo gira ao nosso redor, quando somos, na verdade, muito menores do que imaginamos. E nisso somos tragados por necessidades, decisões alheias, e até pelo Muro de Berlim.
E da mesma forma que hoje sou alguém totalmente diverso do que esperava há 30 anos, em 2041, se ainda tiver capacidade de escrever (ou se ainda estiver vivo), fatalmente estarei em um lugar onde jamais imaginaria estar, talvez com alguém que ainda não conheci - ou que só precisava conhecer melhor - mas, definitivamente, radicalmente diferente do que teria sonhado ou planejado.
Mas estou disposto a continuar no jogo.
E eu não tenho mais medo de lagartixas.
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