Ajoelhado perante o nada absoluto refletia sobre os passos anteriores. E os futuros. Diferenciar um do outro era tarefa impossível, visto que não havia como conceituar o que vivera e o que estava prestes a tornar passado.
Tal situação não o diferenciava dos outros que passaram pela mesma calçada do anonimato e da reles sobrevivência. Nada havia de extraordinário, exceto aquele dia em que.
Ninguém vai querer saber.
"Estamos aqui por algum propósito divino?", questionava-se, mesmo não acreditando em deuses ou celebridades. Relembrava das lições ensinadas e nunca aprendidas, que não ensinaram a amar o próximo.
Pelo menos também não se apaixonara pelo vil metal.
Mulheres, empregos, amigos, ressacas e jornais velhos estavam no seu pequeno livro da vida. Papel gasto inutilmente. Medos e decepções compunham os capítulos mais longos, escritos em letras miúdas para caberem todas naquele espaço.
Uma vida que não valeira a pena ser adaptada para a TV, cinema, teatro. Nem mesmo uma radionovela mexicana.
Ao mesmo tempo, a insignificância e a incredulidade o libertavam para viver de acordo com suas regras, mesmo fazendo parte do agrupamento em que todos os primatas pensantes estão inseridos. O que tinha lhe bastava, poderia viver perfeitamente cm o pouco que tinha desde que não houvesse incômodo algum de quem não compartilhasse seu reino particular.
Talvez faltasse um pequeno detalhe, algo que começou a perceber com o passar dos próximos capítulos: se cada cabeça é uma ilha, existe o momento em que tudo o que desejamos é trocar o isolamento por algo simples e, ao mesmo tempo, tão profundo e complexo.
A verdade é que ele mesmo não entende muito bem o que se passa, mas tem a certeza de que não pode viver mais da maneira em que se encontra.
Ele tomou ciência, enfim, de que precisa ser feliz.
Com você.
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